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Educação não é prioridade

Mais um ano letivo se inicia nas escolas da rede estadual de ensino e antigos problemas continuam sem solução. Acompanho o início das aulas no Paraná há pelo menos cinco anos. Em todos eles faltam professores, escolas estão sem prédios próprios e algumas mães de crianças e adolescentes imploram por vagas. Pensei que este ano, por ser eleitoral, seria um pouco diferente.
Não foi o que constatei ontem junto com meu colega, o repórter Pedro de Castro. Estudantes têm aulas em galpões alugados ou em subsolo de igreja, espaços sem a mínima condições necessárias para uma escola funcionar, conforme mostramos na reportagem 3,5 mil alunos voltam às aula em salas improvisadas, da Gazeta do Povo. Sem banheiros, em salas de aula superlotadas, muitos alunos enfrentam diariamente dificuldades para continuar seus estudos. O reflexo é a evasão escolar, que passa os 50% entre os adolescentes com mais de 15 anos. Já é difícil para os jovens se manterem nas escolas, com o modelo ruim de educação que vivemos nos estabelecimentos públicos. E não falo aqui em estrutura não, mas em falta de qualidade. Professores e diretores estão mal preparados e os gestores não acompanham, não fiscalizam.
A população tenta aos poucos fazer a sua eparte. Se por um lado muitas escolas reclamam da falta de participação das famílias na educação de seus filhos, encontro muitas famílias que não encontram respaldo quando tentam se aproximar da escola. Quantas histórias já ouvi de adolescentes bem intencionados, que querem estudar e não encontram estímulo. Alguns não encontram sequer vagas.
O bairro Tatuquara e suas imediações (Campo de Santana, Rio Bonito e Caximba) vivem uma triste particularidade. São apenas quatro escolas da 5ª série ao ensino médio para atender uma das regiões que mais cresce na Capital. Uma delas funciona de maneira precária. Há cinco anos acompanho a triste agonia da comunidade em torno do Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay. A promessa era de uma nova escola, que não ficou pronta até hoje.
A obra foi paralisada, depois demolida e agora, diz o governo, que será retomada. A comunidade não acredita mais em promessas. Cansou de esperar pela nova escola e promete parar de funcionar. Cheguei a receber uma vez a fundadora do colégio, dona Sebastiana, uma professora aposentada com mais de 70 anos, que durante muito tempo dirigiu o Beatriz Ansay. Lembrou com carinho como cuidava da escola, do esforço que foi para levar água até o bairro e até das flores que plantou no jardim. Frustrada, assim como a comunidade que quer ser atendida, Sebastiana agora luta novamente para ver o prédio da escola reerguido.
Está junto com os moradores, alunos e professores. Uma raridade de diretora, uma raridade de docente, que mesmo aposentada, não virou as costas para sua comunidade.